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Saudades do Brasil 01 - Retorno à Universidade
Almada, 14 de Outubro de 2018, Domingo.
Atualizado em 02 de Dezembro de 2018, Domingo. 

(O título anterior era “Saudade da USP”)

O meu retorno à Cidade Universitária (Universidade de São Paulo, Brasil) se deveu a um episódio: Tinha recebido o E-mail de uma pesquisadora do Instituto Butantan, e que precisava de alguém para organizar certos documentos de um setor de pesquisa (acho que foi isso). Então, confirmei de que iria passar lá, para entrar em contato com ela. Mas eu não sabia exatamente do que se tratava.

Peguei um trajeto que era diferente do que eu fazia, quando ia para as aulas da universidade: A Linha Amarela de metrô, a partir do centro da cidade. Foi uma experiência realmente inédita. Pela primeira vez eu estava dentro de um vagão de trem que era na verdade uma espécie de “túnel”, podendo vislumbrar tanto a cabeça (o começo) como o rabo deste. Uma nova tecnologia de trem, e que nunca tinha experimentada antes. A linha era recém-inaugurada, e eu nunca tinha pegado nela.

Tanto dentro do vagão, como fora, na estação Butantan, percebi que a turma de jovens é de uma outra geração, pela maneira de vestir. Foi daí que senti o quão velho sou. E como o tempo passa. E eu estaria indo em direção à essa nova geração. Pois, já tinha o intento de entrar no Campus a partir do Instituto Butantan. Mas primeiro, tinha de contatar com a pesquisadora, para saber do que se trata. Na verdade eu estava na expectativa de pegar um serviço para mim.

Econtramo-nos no prédio da biblioteca. E de lá, ela me conduziu para o pessoal interessado na preservação e organização dos documentos. E fui apresentado para os variados pesquisadores. Essa senhora simpática disse então, algo parecido assim: “Pessoal, te apresento o Zadoque, especializado em registro, organização e preservação de documentos...”. Foi daí que percebi o equívoco. E fiquei pensando de onde ela tirou essa conclusão.

Pedi a minha palavra, e expliquei qual é a minha atividade. E que em nenhum momento, no meu site, estava explicitado as atividades que ela pensava que eu era especializado. Foi um mal-estar geral. Deu para perceber isso. Desculpas a parte, tentativas de acertar o mal-entendido com os próprios colegas etc. Então deixei o meu cartão, já pensando na possibilidade de fazer algum trabalho de ilustração científica. Em particular, talvez a taxonomia.

Pois, nesse interim, na expectativa de contato, eu já vislumbrava essa possibilidade, coisa que eu tinha desistido faz um bom tempo. Foi quando conheci um colega e desenhista judeu, de nome Levi, lá no centro de Biociências. Isso foi nas décadas de 80 para 90. Naquela ocasião, Levi me mostrou a sala aonde ele trabalhava, cheio de materiais e amostras. Não existia o computador, pois, ele era inacessível para a maioria de nós, e estava sendo apresentado para o público consumidor. Programas como o Photoshop e o Corel Draw eram desconhecidos, penso eu.

Ele me mostra dois crânios humanos, mas sem as calotas: Um de um branco, e outro, de um negro. De imediato me surpreendeu porque a parede craniana de um negro tinha o dobro da espessura de um branco. Brinquei dizendo que os negros são cabeças duras!

Naquela mesma ocasião, pude ver a câmara clara, para cópias de desenhos. Até aquele momento, sempre pensei que a “câmara clara” fosse uma invenção de Rolland Barthes, no seu livro do mesmo título. Nunca cogitei de que existia o tal aparelho. Mas quando vi a imagem de uma abelha ou pequeno besouro (não me lembro bem), meio que aberta, através do microscópio estereoscópico da câmara clara, quase caí de costa, pela nitidez impressionante da imagem, em um cenário tridimensional. Parecia que estava aproximando de uma galera submersa no fundo do oceano, e que podia adentrar-me nela. A minha imaginação começou a viajar.

Mas toda esse meu primeiro contato com o possível mercado de ilustração científica foi para mim, um pouco desinteressante. Porque eu tinha outras opções no campo de ilustrações em mente. E principalmente porque, nas palavras do próprio Levi, ele estava para se casar, e via-se que não poderia sustentar a família que prentende formar, com o salário como ilustrador científico. Então, as perspectivas de sair-se bem nessa área, e prosperar, não eram das melhores.

Não sei como ele resolveu o problema. Porque, nunca mais entrei em contato com ele. E nem passei no prédio do Biociências. Somente depois de muito tempo, com a expectativa de contato com o Instituto Butantan é que passei a vislumbrar melhor a situação. Isto é, na verdade eu precisava de outras formas de rendimentos.

Depois de ter acertado com o pessoal do Instituto Butantan, fui caminhando até o balão (rotunda) que liga a Av. Luciano Gualberto com a Av. Lineu Prestes. Logo deparei-me com a segurança mais reforçada, no portão que liga o Instituto do Campus da universidade. Mas tinha apenas restrições para o trânsito de veículos. Antes, na minha época, era mais aberto. Na verdade, naquela época, havia uma porta de entrada, próximo ao Paço das Artes (um centro cultural situado na Avenida da Universidade), e que levava para dentro do Instituto. Isto é, além da entrada pela Av.Vital Brasil e pelo campus da USP, tinha essa entrada, e que as vezes eu optava. Mas agora está emparedado.

Muitas vezes eu pegava o caminho do Instituto Butantan, quando chovia muito e ficava intransitável a saída do Campus. Isto é, quando era impossível sair da USP. Desde que a Av. Corifeu de Azevedo Marques não esteja alargada. Mas da última vez foi pior: Com o alargamento da Corifeu, tive de sair pelo lado a Ponte do Jaguaré.

Dentro do campus, fui diretamente para o prédio de História e de Geografia. De longe pude ver a nova biblioteca de Midlin sendo construída. No entanto, o prédio de História e de Geografia aparentemente não apresentava alterações. Exceto os dois elevadores na entrada. No espaço interno, aparentemente a mesma arquitetura e a mesma turma. Isto é, o mesmo tipo de agrupamento. Só que de uma nova geração.

Tinha inclusive uma banca de sebo (alfarrábio). No meu tempo, eram várias, distribuidas no vão do prédio. Mas nessa, havia uma garota e um rapaz. Este quieto. E a garota, logo que viu a minha postura, que parecia ser de questionamento, devido a certas conversas que eu tinha travado com eles, logo perguntou se eu aderiria ao movimento em que ela estava engajada. Isto é, e explicou para mim, de que estava fazendo (ela e sua turma) um movimento pelo direito à moradia estudantil (acho que se trata da CRUSP).

Ela não me conhece, mal nos vimos pela primeira vez, e tem a idade para ser a minha filha... Logo “de chupetão” pediu a minha adesão. Fiquei um pouco surpreso. Como respondi que tenho certas posturas ( a evangélica), mesmo que não tivesse concluido a minha explicação, logo entendeu de que não quero nenhuma adesão ao dito movimento em que ela estava engajada.

Saí de lá, e fui em direção à sala Pró-Aluno da unidade (aonde se encontram disponíveis os computadores para trabalhos de faculdade e pesquisas na Internet), e que por incrível que pareça, mesmo passado muito tempo, continua lá. Só que com outros tipos de equipamentos. E uma impressora a laser. E lá estava uma outra garota, com os seus 18 a 20 anos, a elaborar e imprimir um folheto anarquista. Perguntei-a se estava defendendo alguma causa socialista, o que respondeu que não, e sim, anarquismo mesmo. Mudanças de tempos. Antes eram movimentos socialistas e marxistas. Agora, anarquista. Ao que parece, não mudou muita coisa.


A Praça do Bidê

Foi quando me lembrei da existência de uma praça, e que fazia parte do meu itinerário visitá-la, justamente para fotografá-la. Pois, ela tem uma história. Esta praça fica lá na Colmeia, e que era a faculdade de Letras. Quando entrei na universidade, foi nas Letras que me iniciei.


Alunos nos corredores da Colmeia (década de 1980). À esquerda, um carrinho de doces.

Não dando certo, acabei migrando para a Sociologia. Mas naquele tempo, as Letras não tinha um prédio, e a Sociologia e Filosofia acabou de adquirir o seu. Então, as aulas eram na Colmeia, um conjunto de barracão em grupos hexagonais. As salas na verdade tinham o formato de trapézios. Todas elas construídas em argamassas e vidros. Foram lá que comecei o meu curso. Inclusive a biblioteca de Letras ficava lá. Juntamente com o setor de fotocópias, secretarias etc.

Como a Colmeia ficava encostada no Conjunto Residencial da USP (o CRUSP), casos insólidos aconteciam. Eu estudava à noite, e em uma ocasião, ouvi um sujeito berrando pelo nome de alguém. Eu estava no setor de fotocópias, mas saí de lá, e fiquei olhando por todos os lados. Nada. Foi quando olhei para cima, e estava lá o dito cujo na cobertura do prédio, berrando por sua namorada. É um desses casos em que você não acreditaria: Parece que era uma noite parcialmente nublada (ou totalmente), mas estava de lua cheia, e que por detrás das nuvens, projetava a sinueta do maluco... Lá em cima do prédio. Mais tarde, uma colega disse que esse mesmo sujeito, em uma outra ocasião, desceu nu, e ficou andando pelos corredores da Colmeia, indo atrás da sua namorada.

Outro caso insólido, e parece que é bem comum, foi em uma ocasião em que eu estava percorrendo o corredor, e tinha lá um sujeito, na esquina, parado, com um lenço lilás no pescoço.


Corredor principal e que leva à Colmeia (quase horizontal).

Não é para se surpreender se o local fosse usado como ponto de prostituição. Pois, a Colmeia era um espaço público, portanto aberto, e qualquer um podia acessá-la. Inclusive as salas mantinham as portas abertas. Exceto a biblioteca, a secretaria etc. E segundo alguns boatos, não era raro os casos de orgias que aconteciam lá na CRUSP. Inclusive, houve casos de morte: A briga em um dos prédios, e que acarretou na queda de dois sujeitos do quinto andar (parece). Se são estudantes eu não sei. Ouvi de uma garota de que tinham orgias homossexuais.

Nem todos os prédios eram da CRUSP. Constituiam de vários em fileiras alternadas. Sendo que dois, no outro lado da Rua da Reitoria, são propriamente os prédios da Reitoria. E onde está atualmente o MAC (Museu de Arte Contemporânea), tinha o esqueleto de um prédio, e que nunca foi concluido. O primeiro prédio, depois do bandejão, aonde os estudantes almoçam e jantam por um preço simbólico, era ocupado pelo MAE (Museu de Arqueologia e de Etnologia). E nos andares de cima do museu, podia ter a vista panorâmica da Colmeia.

Apesar da aparente improvisação das salas de aula e dos casos anômalos (ou usuais), o ambiente era agradável. Exceto a alienação e a baixa civilidade de alguns estudantes. Em geral a alienação poderia ser explicada por causa do uso de drogas. Ou apenas por questões culturais e idiossincráticos mesmo. Pois, a universidade é uma das melhores da América Latina, e atraem estudantes de várias regiões do país, e do Exterior também. Em um dia desses, próximo do Hospital Universitário, vi um jovem estudante a assobiar o primeiro movimento do Quadros em uma exposição de Mussorvski. Fiquei tentado a esperar ele prosseguir no segundo movimento, terceiro etc. Mas não podia porque o ônibus tinha chegado, e eu teria de pegá-lo.

No caso do baixo senso de bem comum ou de respeito à propriedade, a coisa era bem emblemática.. E justamente no bandejão, era comum a falta crônica dos talheres. Culpa dos funcionários ou da USP? Claro que não. Foram os moradores da favela da redondeza (o São Remo)? Pouco provável. Pois, além dos moradores, os cachorros também ficavam rondando lá (inclusive gatos), a olhar para você, pedindo comida. Naquela época o bandejão central não era cercado. E qualquer um podia entrar lá. Mesmo com as cercas, se não entravam os moradores do São Remo, entravam pelo menos os cães e gatos.

Mas tudo leva a crer que foram os próprios estudantes que moravam no CRUSP que roubavam os talheres. E numa dessas ocasiões, um colega caiu em cargalhada, quando me viu a comer um bistecão nas mãos, feito um bárbaro. Então decidi passar lá no Shopping Eldorado, que fica perto da entrada da Universidade, e comprei um conjunto de talheres, com cabos cor de laranja. Tinha de ser uma cor mais ou menos chamativa, para deixar claro de que os talheres são meus, e não da universidade. E andava com eles todas as vezes que ia para a faculdade.

Passado um certo tempo, aparecia um bidê sobre a tampa de esgoto, e que ficava em uma pracinha no meio da Colmeia. Aparentemente ninguém percebeu a presença do estranho objeto. E depois de alguns dias (ou no dia seguinte), o bidê estava estilhaçado, com os cacos espalhados no local. Chega os funcionários da USP, limpa a pequena praça. E todo mundo esqueceu do episódio. Mais tarde, outro bidê, e o ritual continua. Incontáveis bidês quebrados...

De onde podia ter vindo esses bidês? Do CRUSP, é claro. Eu já entrei em um apartamento destes, aonde morava um colega. Quando se trata de pós-graduação, você tem um apê próprio. Do contrário, morava em república, entre os colegas lá, aonde as divisórias são de madeira. Inclusive as paredes externas, de onde duas vítimas fatais cairam do quinto andar, eram feitas de eucatex (eu acho). Em certos aspectos, lembrava um cortiço vertical, no meu entender. E caso houvesse um incêndio, seria uma fatalidade. Inclusive o chuveiro ficava em um box que pareceu ser de madeira (ou eucatex).

Muita gente que não era estudante morava lá. Eram amigos dos amigos dos amigos dos estudantes, por assim dizer. Ninguém reclamava, porque tinha espaço para mais um. Sem contar de que tinham os estudantes profissionais: O sujeito entra na USP, e fica lá para o resto da vida. Por pouco eu iria ser taxado de um, por causa dos problemas pessoais em que enfrentei, e que acabaram fazendo com que a conclusão do meu curso demorasse demais.

Passado um certo tempo, batizaram aquele cantinho de Praça do Bidê. Porque já se concretisou a construção de um símbolo. Inclusive com direito a placa, que se me lembro, era pintada na parede. E todo mundo ficou feliz. Mais tarde, o prédio de Letras ficou pronto, e a faculdade foi mudado para lá. E a pracinha com os seus episódios ficaram esquecidos.

Voltando para o momento presente...

Quando cheguei no local, passando pelo prédio em construção, para a futura biblioteca do Midlin, tive uma grande dificuldade para localizar a memorável pracinha. É que passou-se muito tempo, e nem eu mesmo lembrava aonde ficava. Daí perguntei para o pessoal. Acredite: Ninguém sabia da existência da praça, e nem dos episódios que levaram a criá-la. Mas com a persistência, consegui localizá-la. Inclusive com a placa... agora fixada no local. Por incrível que seja, está lá.

Fiz as fotos necessárias, feliz de ter conseguido documentar mais um episódio da minha vida de estudante.


A Praça do Bidê, tomada por árvores. Antes era apenas um gramado.


A placa, agora uma peça fixada no local, mas esquecida.


O “altar” de onde eram “sacrificados” os bidês. A enigmática cruz pintada já estava lá, quando cheguei no local.

Fui embora do local. Mas antes, aproveitei para passar lá no DCE, para confirmar a interdição que havia, e saber o que de fato aconteceu. Como começou a chover, tive de refugiar-me no outro prédio do MAC, e que fica ao lado da Reitoria.


Duas simpáticas garotas: E uma chora

Depois da chuva, voltei de novo em direção ao FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas... pronuncia-se “Fefeléche”), de onde estava o prédio de História e de Geografia, como também de Sociologia, Filosofia e de Letras. Na verdade, a minha intenção era já de fazer os contados com possíveis editoras e instituições de pesquisas, para pegar serviços de ilustrações.

Tive então de percorrer um trecho da calçada, defronte dos prédios citados. E logo percebi que não mudou em nada a conservação desta, no sentido de evitar que as águas da chuva, que corre da pequena elevação do lado, invadisse a calçada, levando consigo os detritos. Ficou toda ela lamacenta, e tive de prestar a atenção aonde pisava. Foi quando deparei, na caminhada, com duas garotas na minha frente, e conversando, indo na mesma direção.

Por curiosidade, iniciei a conversa com elas. A princípio pensei que eram duas futuras calouras a fazer matrículas na faculdade. Mas durante a conversa, uma começou a chorar. Fiquei chocado com a cena. E perguntei o que houve. Então a outra respondeu. É que as duas são irmãs. Sendo que uma entrou na faculdade de Letras. Mas a outra não conseguiu passar no vestibular. Esta desabafou dizendo que as matérias dadas em sala de aula (no ensino médio) não ensinavam. E cita o caso da professora de matemática, que depois de ter dada as explicações, perguntava para a turma da sala se entendeu. E se não, que se f*d@.

Realmente este não é o procedimento correto. Nem exemplar. E perguntei quantos anos ela tinha. Com a resposta dela, disse que é muito jovem, e que pode passar das outras vezes. Muitos não têm vocação para ensinar, mas que são obrigados a darem aulas por questões de necessidade. Me despedi das duas, e fui em direção à uma editora, e que fica no setor administrativo da FFLCH.


Um “cadáver” na faculdade de arquitetura

Lá percebi que não havia interesses pelos meus serviços. Então fui para a FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). Ainda que eu não tenha feito nenhum curso lá, foi dentro do espaço desse prédio é que comecei as minhas atividades como desenhista profissional. Para ser mais exato, como quadrinista.

É que no começo da minha carreira, que foi como desenhista de quadrinhos, eu não tinha prancheta, banquinho, luminárias etc., e estava ainda aprendendo. Como o estúdio em que fazia o estágio não tinha o espaço para todo mundo, pois era muito concorrido, optei então em usar as mesas disponíveis nas salas da FAU. Isto quando não haviam aulas. Somente adquiri a minha prancheta quando trabalhei em uma editora e gráfica, que ficava lá no bairro de Cambuci.

Mas as minhas experiências na FAU foram inexquecíveis: O pessoal via os meus trabalhos sendo feito (na verdade eu estava apanhando e muito, para acertar os traços). E boas conversas ocorriam. Quando tinha tempo (que sobrava), eu aproveitava a biblioteca, para degustar as revistas importadas de artes e de fotografias. Foi assim que aprendi muita coisa, além de sonhar mais.

Isso foi muito tempo atrás. Agora, deparei-me com o prédio em reforma: Toda a cobertura do andar de cima estava com lonas azuis e redes. É que tinham vazamentos no teto. Este era formado de mosaico de concretos com redomas de fibra de vidro. Certamente que não dava para ver isso agora. Mas eu já sabia dessa construção, porque tinha feito uma ou duas fotos, e em PB, dessa cobertura, lá nos anos 80 para 90.

Além de uma caixa de água, e que vi no momento, tinha um “cadáver” sobre umas destas redes. Isto é, um maquete que aparentava ser realística. Brincadeira a parte, fico imaginando como eram dadas as aulas no local em reforma.








Indo em direção à Química

Antes, creio ter passado no prédio da Geociência. A minha intenção era de saber aonde e como conseguir os fósseis para estudos. Pois, estes também são alvos do meu interesse, uma vez que sou criacionista, e que precisava de amostras de materiais. Faz um certo tempo em que foram proibidos a venda de fósseis, e que era feita nas praças públicas, como a da República, Liberdade etc., além das lojas. Com a proibição, tornou-se impossível de adquirir legalmente os materiais.

E mesmo dentro da legalidade, creio que poderia conseguir esses fósseis, através das dicas da Universidade. Além disso, no meu tempo de curso, tinha conversado com um professor da instituição, e ele disse que não é difícil de consegui-lo, e dentro da lei. Não me lembro o nome dele, e nem quando isso aconteceu.

Mas nesse dia fiquei sabendo que o responsável é um tal de professor Johny. Imediatamente percebi que trata-se de um estrangeiro. Possivelmente um gringo americano. Por que não João ou José? E sim Johny. Também lembrei do meu professor de antropologia, um tal de Johny. Na verdade, não tive a oportunidade de entrar em contato com ele, pois, não estava. E apenas pude conversar com alguns alunos da área, ou próxima desta.

Saí do local e subi pela Rua do Lago, indo em direção à escadaria, e que me leva para os prédios da Química. Na verdade uma subida increme, e que no meu tempo de aulas era penoso. Mas um desafio que eu aceitava. Desta vez, senti que estava no limite das minhas forças, e com a idade, além da vida sendentária, fiquei preocupado em “dar um troço” lá, naquela subida. De modo que procurei maneirar um pouco. Tinha uma turma que estava atrás de mim, e que acabou passando na minha frente. Parece que na pausa da subida, ainda dei uma apreciada na vista panorâmica da paisagem, em direção ao bico de Jaraguá. E ver o que mudou no Campus.

Já no corredor da Química, passei lá no bandejão, e resolvi dar uma olhada. Logo, uma conhecida funcionária, que trabalha no local, me reconheceu. E perguntou sobre mim. Como eu disse que estava matando a saudade da universidade, ela imediatamente me convidou a passar na catraca para jantar lá. De graça! Mesmo com a minha relutância, ela insistiu. O que agradeci. Acho que devo uma retribuição para ela, ou para alguém...

No passado, quando eu era ainda estudante de Letras, tinha encontrado a carteira de um jovem funcionário da USP, e dentro do ônibus, na volta para a casa. E lá, tinha todo o salário do sujeito. Mas eu não sabia. Felizmente na carteira tinha o número de um telefone. Imediatamente (no dia seguinte, acho eu), entrei em contato, e acabei conversando com o pai dele, que também trabalhava na USP como bilheteiro a vender as fichas do bandejão para os estudantes. Também não sabia desses detalhes, pois, a conversa estava sendo feita por telefone. Ficou acertado de ele me encontrar em uma das salas da Colmeia. Quando vi o senhor, logo o reconheci. E ele já me conhecia também. O sujeito me agradeceu, e muito, por ter resgatado o salário do seu filho. Mais tarde, lá no bandejão, ele me deu a entrada gratuita. Não sei se foi para sempre. Mas essas coisas devem rolar de boca a boca no local. Até hoje não conheço o feliz e descuidado funcionário, e que tinha perdido a sua carteira. Também não vou abusar da situação.

Voltando ao bandejão da química, logo vi que não tem mais aquela vista panorâmica de todo o centro da cidade de São Paulo, como também da região de Jaraguá. Pois, na época de estudante, eu apreciava aquela paisagem, enquando almoçava. Mas depois, colocaram os estantes para que os estudantes deixassem seus materiais lá, o que interdiou a agradável visão. Agora, devido à reforma ocorrida no local, tudo foi alterado, e não existe mais a possibilidade de apreciar a paisagem agradável e um pouco relaxante. Pois, agora o bandejão da Química constitui-se de dois pisos no lugar de um. Sendo o segundo, mais em frente do prédio, rebaixado.

Também não teria mais o sentido de chamar de bandejão, porque faz muito tempo que deixou de ser usado aquelas bandejas de aço inoxidável. Foram substituidos por pratos. E os próprios estudantes tinham mais opção de escolher suas comidas.

Realmente o pessoal é diferente. Uma outra geração. E eu me senti deslocado no lugar. Pois, tenho a idade para ser o pai da maioria deles. Houve realmente mudanças no Campus. Além disso, o fato de estar jantando lá, era a realização de um sonho que eu tive, bem antes, e que a princípio acreditei ser a minha aspiração de voltar para a USP. Mas aquela época, com todos os seus benefícios, já tinha passado. E não volta mais. Naquela hora percebi que o sonho era na verdade uma mensagem para mim. O porquê não sei.

Saindo do Bandejão, logo encontro com o Derneval, indo para jantar. Mais velho, e com os cabelos grisalho, como eu. Imediatamente tivemos uma boa conversa. Nos conhecíamos na época de Letras, e logo no início percebi que tínhamos uma incompatibilidade de genoma. Foi em uma aula de Introdução aos Estudos Literários. E depois, houve conflitos em outras ocasiões.

O sujeito é mineiro. Depois da graduação de Letras, fez a pós. E depois, a Biblioteconomia. Isto durante o meu curso de Sociologia. Perguntei a ele então, o que está fazendo na USP. O que ele respondeu de que está cursando a História e a Geografia. Então, perguntei se estava trabalhando. Ele então desconversou, mas de maneira discreta. Ao despedir-me dele, fiquei pensando ser este mais um caso de estudante profissional. De fato existem. Mas quem sou eu para julgar as pessoas? Pois, não passei uns 20 anos na universidade também?

Indo pelo corredor da Química, deparei-me com dois rapazes estudantes namorando, em um canto. Suponho que tenham por volta de 18 a 20 anos de idade. Logo em um dos portões principais, para a entrada em um dos prédios, vi que precisava de autorização para entrar. No meu tempo era tudo liberado. Agora são catracas em todos os lados, e só podia passar com a carteira da USP. Lembrei-me então de que no meu sonho de estar almoçando no bandejão, tinha visto catracas em todos os lados... É surpreendente.


Um senhor fazendo a Física

Depois desse primeiro retorno, após muito tempo fora da universidade, fiz outras incursões na USP. Desta vez não para matar a saudade, e sim, fazer contatos para serviços de ilustradores. E foi numa dessas ocasiões em que passei lá no Instituto da Física. Logo uma senhora, que vende salgadinhos e doces no local, me reconheceu, e perguntou por mim. Pois, eu tinha passado lá para observar o bandejão da física também. Acabei comprando algo dela, uma vez que não poderia usar o bandejão. Afinal, aquela última vez foi uma cortesia.

Aproveitei para ver a biblioteca da Física, quando percebi que todo aquele acervo maravilhoso que vi, logo no começo, quando conheci a USP, já não existe mais. Conversei com uma das bibliotecas acerca do assunto, o que ela disse que foi tudo digitalizado. Lembrei-me então da pilha de revistas Scientific American, e que estava disponível à venda, lá no Sebo Itaim. Evidentemente que não podia comprar, porque não tinha dinheiro. Perdi essa chance.

Fui então para os prédios de física, aonde são dadas as aulas, afim de fazer os contatos. Mas eu só tinha os cartões voltados para ilustrações comuns. E possivelmente naquele dia não andava com o meu portfolio. Mesmo assim, deixei os cartões para algumas pessoas. Saindo de lá, deparei-me com um senhor de idade, fazendo a graduação em física. Nem me lembro como é que puxei a conversa. Ele é engenheiro aposentado.


Contatos para serviços de ilustrações científicas

Depois de ter preparado os materiais para serem apresentados, resolvi fazer os contatos no Campus da universidade. Antes, estes materiais - ilustrações feitas a bico de pena - foram de acordo com as orientações dadas por Francisco, lá do Instituto Butantã. Foram três temas que escolhi por conta própria: Um crânio de hominídeo (a criança Taung), um lagarto que anda sobre a água, e outro, de cor azul. Todos os trabalhos foram feitos com a técnica de pontilhado, o que para mim foi relativamente fácil.


Australopithecus africanus - Taung child

Em seguida, escaneei todas as ilustrações, e mais alguma coisa; e passei a trabalhar com elas no computador. Fiz os cartões de visitas e os cartazes para serem expostos. Mas terminei todo o trabalho? Claro que não. Faltou uma página específica, aonde ficaria o meu portfolio. Então, fiz uma, dentro do Zadoque Arts. Isto somente terminou no dia 15.

No dia seguinte, fui para a Universidade, pegando dois ônibus, e passei antes no Sebo Itaim. Um trajeto que só tomaria se estivesse indo para a USP, o que já faz um tempo que deixei de fazer isso. Toda a região do Itaim Bibi sofreu grandes alterações. Não é mais aquele tempo em que eu freqüentava os cursos da universidade.


Outras ilustrações







Supostamente a primeira ilustração tida científica que fiz (década de 1980-90).


O prédio de Oceanografia

No campus, o primeiro prédio que contatei foi o da Oceanografia. Já tinha visitado no começo do ano (creio eu); ou no ano passado. E sabia que tinha vários laboratórios no ambiente. Desta vez, demorou para eu sair de lá. Porque foram tantos contatos que fiz, de modo que não lembro quem é quem. Tinha gente simpática. Foi daí que descobri que dos quatros corredores principais, dois eram somente de biologia. E os demais, de física e de geologia, sem contar possivelmente de química também. Tudo isso no andar de cima. E o prédio tem somente dois pisos. O térreo dispõe de um museu, que estava fechado a meu ver, além da entrada da biblioteca. Esta é bastante volumosa. Já entrei lá, mas faz muito tempo atrás. Quando eu estava ainda fazendo as Letras. Isto é, suponho eu que foi na década de 80.

Naquela época, começava a proliferar a venda dos computadores domésticos. Começava com miudesas do tipo Sinclair: Os Tks da vida. E depois, entraram os computadores da Prológica, Aple, Trs 80 (creio eu), e além dos PC's originais, os MSX. Este último era o que eu aspirava, porque o preço era bastante disponível. E eu estava trabalhando como desenhista, portanto, tinha a possibilidade de comprar um.

Foi justamente nesse sonho e aspiração que, um dia, lá na biblioteca de Oceanografia, deparei-me com um atlas de relevo submarino. Fiquei impressionado, e pensei em como calcular o volume das águas, para definir se a quantidade de águas nos oceanos seriam de fato mais volumosa do que as montanhas da superfície da Terra. E nesse tempo, dentro da biblioteca, pensei no MSX.

Nesse período em que estava fazendo a faculdade, eu estava desenvolvendo muitos projetos. Na verdade, vislumbrei com a grande potencialidade em dialogar várias áreas do conhecimento humano. Justamente por ser criacionista, vi a grande oportunidade em fazer as abordagens para confrontar com as posturas evolucionistas. Continuo mantendo esta ambição. Se Deus permitir.

No caso do relevo submarino, a intenção era a de provar de que o dilúvio foi de fato em toda a superfície do planeta. Bem mais tarde percebi de que não precisava de todos esses recursos, e nem de cálculos complexos para defender esse meu argumento: Bastava saber que 3/4 da superfície do planeta é constituida de água, e que os relevos marinhos são bem mais acidentados do que os relevos acima do nível do mar, para concluir que se nivelasse todo o relevo, as águas ficariam bem acima da superfície terrestre.

Bom, voltando para as visitas aos laboratórios. Logo confirmou a preferência que a turma tem por um dos três cartões que fiz: O de lagarto azul. Era óbvio: A arte foi bem feita e bonita. Não que as outras não estivem igualmente bem feita. Mas o crânio do hominídeo não é lá uma coisa de se apreciar. Salvo se o pesquisador fosse de fato um fanático em antropologia física, ou um fanático evolucionista. Gosto de fazer experiências comportamentais com os meus próprios trabalhos.

Fui contatando os pesquisadores em cada laboratório e nos corredores. Evidentemente que as salas de física e de geologia não teria o interesse. Porque os materiais que eu estava apresentando eram somente de objetos biológicos. Mesmo assim, nada que condizesse com os objetos de pesquisas do instituto, e que envolve apenas os animais e vegetais marinhos. Eu só tinha lagartos e um crânio de hominídeo.

Em um dos corredores deparei-me com um estranho chuveiro com uma enorme alavanca, e uma bacia com dois borrifadores. E perguntei para uma aluna que passava por perto. Ela me disse que era para o caso de emergência. Para uma possível vítima de acidente em um laboratório fizesse a limpeza: Ficava debaixo do chuveiro e puxava a alavanca. Em seguida, caso tivesse atingido o rosto ou os olhos por algum tipo de substância corrogiva, usasse a bacia especial, e que tinha dois borrifadores, justamente para limpar os olhos.

Ela conta o caso de uma aluna que perdeu os olhos, porque foi atingida por um ácido ou material corrosivo. E mesmo que tinha tentado lavar os olhos nos borrifadores, ela estava com as lentes de contatos, o que impediu a limpeza. A substância atingiu as retinas dela. Fiquei chocado, porque uma aluna estava se realizando dentro de uma universidade. E justamente lá, tem o seu destino marcado de maneira trágica.


O prédio de Biociências

Saí do local pensativo, e fui em direção ao prédio de Biociência. Antes, pensei em passar no Geociências. Mas eu não tinha nenhum material relacionado à área. Além disso, já estava estimado de que eu precisaria de alguns dias, só para percorrer as unidades interessadas do Campus. E para aquele dia, não convém ir além das áreas biológicas. Subi então, a Rua do Matão, e que é um bom exercício para uma criatura sedentária como eu.

O primeiro edifício que entrei, foi justamente o que se encontrava defronte à Rua: O prédio de botânica e de zoologia. Mas de lá não saí mais, para enveredar em outros centros de pesquisas. Pois, foi demais o número de contato que pude fazer lá dentro. Depois de me identificar e cadastrar-me etc., etc., fui diretamente à secretaria de botânica, aonde deixei os três cartazes. Em seguida, subi para o andar de cima, pela indicação da secretaria, e logo deparei-me com espécie de cristaleiras, cheias de réplicas de crânios de hominídeos. Eu estava no setor voltado para a evolução humana. Na verdade, também o setor de genética, e que logo percebi, ao deparar-me com o que acredito ser um espécie de sequenciador de DNA. Isto além das especialidades dos pesquisadores, e que estavam fixadas nas portas de cada sala.

Confesso que fiquei fascinado com aqueles modelos expostos. Alguns percebe-se que são feitos de gesso ou massa acrílica, e o acabamento tinha a qualidade um pouco duvidosa, por causa dos vestígios. Mas os outros realmente davam para enganar. Existem, é claro, réplicas (ou originais) de crânios e ossos de outros primatas. As réplicas no Bone Clone não eram baratas. O preço do crânio do Australopithecus africanus (a criança Taung), e que fiz uma das ilustrações, custava cerca de US$ 195,00.

Eram muitos os microscópios, e em todos os lados, aonde eu pude visualizar. Além de vidrarias e equipamentos. Alguns de fato sofisticados. Mas estes eu já tinha percebido no começo do ano (ou no ano passado), quando fui para a biblioteca do centro de pesquisas. O pessoal foi bastante simpático, como lá na Oceanografia. Mas também tinham os pesquisadores que não estavam afim de conversas (igualmente como no primeiro prédio). Perfeitamente compreensível. Pois, eu estava em um dos centros de produção de conhecimentos científicos.

Ao que parece, cada aposento do prédio é um laboratório, e ao mesmo tempo a sala específica do pesquisador. Muitos deles estavam divididos em dois andares, por meio de estruturas internas de aço. É que a construção do prédio é antiga, cujo pé direito era pelo menos de 5 metros. Isto é, a altura do teto em relação ao piso.

Foi daí que começou a cair a ficha em mim: Se cada sala é um laboratório, tal como lá no prédio de Oceanografia, significa que é perfeitamente normal dispor de um em qualquer lugar para a produção científica. Tudo depende do tipo de atividades que se pretenda fazer. Logo lembrei-me do meu tempo de adolescência, quando o meu laboratório improvisado não passava do espaço de uma mesa. De imediato veio e entusiasmo em remontá-lo de novo, mas que ocupasse um aposento. Era o meu sonho de adolescência. Pois, tenho vários projetos de pesquisas em mente. Obviamente que existem experiências em que são requeridas equipamentos sofisticados. Vi lá no Prédio de Botânica e de Zoologia, equipamentos que ocupavam a sala inteira. Mas as minhas pretenções são mais modestas.


Primeira confrontação com uma evolucionista

Como eu estava fazendo os contatos, em uma destas salas, e que era na verdade, apenas o escritório de um dos pesquisadores, sem laboratório; e conversei com um senhor que descobri mais tarde ser um desenhista. Mas não sei se de fato é um pesquisador. E durante a apresentação dos meus trabalhos e a entrega de um cartão, tive a oportunidade de conhecer uma senhora simpática de nome Francisca. Ela é pesquisadora na área de evolução biológica. No meio da conversa, declarei de que sou criacionista, só para provocar a devida polêmica.

“Pronto!” Exclamou ela. Pois, é atéia.

Tive então, a oportunidade de expor para ela de que as teorias evolucionistas são na verdade apenas teorias, e que não foram comprovadas nenhum processo evolutivo. Além disso, ainda que possa repetir nos laboratórios, alguma evolução bem sucedida, isto é, in vitro, não significa que de fato ocorreu a evolução, e que deu a origem à vida que conhecemos hoje.

Ela então perguntou respondendo: E o criacionismo, o que é?

Era o que eu precisava, o seu retorno. Então expliquei que o criacionismo não é Ciência, e sim, um sistema de crenças. E que está automaticamente vinculado à crença na existência de um deus ou algo parecido. Trata-se de apenas uma forma de conhecimento. Não se pode comparar a Ciência com o criacionismo, pois, não é pertinente. A Ciência não pode provar que Deus existe ou que não existe. Ela é empírica. Cheguei a comentar (creio eu) das derrapadas de Richard Dawkins, ao criticar a crença em Deus.

Ela, a Francisca, parecia que não estava afim de continuar a conversa. Mas antes que fosse embora, eu a disse que, se o evolucionismo for provado, eu estaria disposto a aceitá-lo. E que para um adepto de qualquer crença (seja ele criacionista ou não), a admissão de que seguia um erro doutrinário é mais penoso do que para um cientista. Pois, eu a tinha dito de que a Ciência também sofre de crises, e que podem levar à mudanças de paradigmas.

Quando ela foi embora, o senhor que estava conversando comigo (e que infelizmente não lembro o seu nome) disse que ela acabou de dar uma aula de etnoevolucionismo. Achei interessante. Aliás, a conversa foi para mim bastante interessante. Mesmo se eu saisse derrotado no embate.

Saindo da conversa, ainda pude entrar em contato com a secretaria de Zoologia. E uma garota que apreciou os meus trabalhos disse que está aprendendo a fazer as ilustrações científicas com a professora Francisca. Um pouco antes, uma estudante colombiana, e que estava fazendo o mestrado, queria que eu ministrasse as aulas de ilustrações científicas. Mas eu disse que seria interessante se tivesse um grupo interessado.

Mal percorri todo o prédio. São pelo menos três ou mais. E restringi-me apenas no piso superior deste. E não podia prosseguir porque já era tarde, cerca de 17 horas ou mais. Então, fui no setor de taxonomia em botânica, que ficava em um prédio separado, cercado por uma lagoa cheia de carpas. A princípio fiquei pensando como é que o pessoal mantém uma estrutura cheia de água, em uma época em que tem-se a epidemia da Dengue. Mas logo um dos alunos pesquisdores explica de que as carpas se alimentam das larvas.

Quando eu estudava na Universidade, e subia a Rua do Matão de ônibus (o Circular gratuito), era comum ver as placas em frente do prédio de Botânica e de Zoologia, alertando para não usar inseticidas. É que tinha todo um ecosistema local, e não precisavam. Da mesma forma, quando visitei o sr. Francisco (o Kiko), biólogo herpetologista do Instituto Butantan, este se encontrava em uma sala em que não eram poucos os pernilongos. Fiquei um pouco apreensivo por causa da Dengue. Mas ele mostrou que era infundada a preocupação. Não me lembro qual era a sua argumentação. Se é que tinha. Nunca ouvi o caso de algum biólogo que tenha sofrido a Dengue hemorrágica. Mas a criação de carpas em uma lagoa certamente foi uma boa idéia.

O setor de taxonomia tinha apenas alunos em atividades de pesquisas. Algo em torno de uns 10, creio eu. E para um prédio que poderia ser preenchido por 30 indivíduos ou mais. Saí de lá um pouco satisfeito com os meus contatos. Já não podia avançar mais porque estava anoitecendo.


O retorno aos prédios de biologia

Desta vez peguei o ônibus na Rua Augusta. Para tanto, desci na Av. Nove de Julho, e subi nas redondezas do MASP, percorrendo um trecho da Avenida Paulista, até chegar na Rua Augusta. Era o dia 21 de maio de 2013. Já no ponto, iniciei a conversa com um estudante de física, até que desci na Av. Luciano Gualberto, para subir o Lineu Prestes. Pois, é mais fácil descer a Rua do Matão, do que subir a ela.

No trajeto evidentemente que passei no prédio da História e Geografia, para confirmar alguns detalhes, e comprar um refrigerante. Além de conversar com alguns estudantes. Na região da Paulista eu já tinha comprado um sanduiche como almoço.

Quando cheguei na Biociências, contornei o prédio da Botânica, Zoologia e genética evolutiva, e cheguei ao prédio de Zoologia propriamente dito. Consegui enfim, entrar em contato com o professor Pedro Ginaspini, que me expôs algumas dicas para entrar em contato com os interessados nas ilustrações. Na verdade, nada de especial: Trata-se de mostrar os trabalhos para as pessoas interessadas por tais.

Logo percebi que poderia conseguir muitas informações valiosas no local. Porque em uma porta de escritório, estava um folheto de uma empresa fornecedora de materiais para laboratórios. Logo copiei o endereço, uma vez que tenho a intenção de montar um laboratório também:

Graal - Materiais para laboratórios - madaleno@uol.com.br
Tel.: 3733-1317. Cel.: 9 9246-4710.


Segunda confrontação com um evolucionista

No meio das minhas explorações, entrei na sala de um pesquisador da área de hermintologia evolutiva. Como das demais salas, esta também tinha o segundo piso artificial, criado com estruturas metálicas. Sendo que no térreo espaçoso, quase que vazio, estava apenas uma pesquisadora. Na verdade aluna, suponho eu. Quando perguntei a ela se precisava de um ilustrador, quem resondeu foi o sr. Fernando P. L. Marques, que estava no andar de cima. Logo que subi, disse para ele de que o segundo piso se deve ao pé direito de 5 metros de casa aposento. O que ele respondeu de que tudo é ilegal, e que se a fiscalização passasse no local, teria de ser desfeito tudo. Isto é, em todos os prédios da biologia.

Ele estava no piso de cima, diante de um computador da Apple, e dois monitores. Sendo que o outro rodando o Linux (da explicação dele), e possivelmente de um outro computador. Estava produzindo artigos, creio eu. Ao seu lado, um pouco atrás, várias papeladas espalhadas no chão.Aonde pude vislumbrar em algumas folhas, os esquemas das árvores evolutivas. Parece que alguém em alguma ocasião me disse que pode-se baixar na Internet, programas que fazem essas árvores, como também, desenhos ou fórmulas moleculares.

Essas folhas espalhadas no chão me lembra, de uma certa forma, as papeladas abarrotadas na mesa do professor Mário Eufrásio (de Sociologia Urbana): Cada um tem o seu esquema de organizar os materiais dos alunos e de pesquisadores. Ou dos seus próprios trabalhos.

Mostro os meus trabalhos para o prof. Fernando, os cartões etc., e iniciamos a conversa sobre o assunto correlato. Quando então, comentei a ele da minha postura “radical”, pois, sou criacionista, uma vez que o assunto é sobre o evolucionismo. Certamente que ele mostrou-se surpreso (de uma forma ou de outra). Mas com das outras vezes, expliquei para ele de que não tem prova da evolução biológica. O que ele rebateu dizendo sobre vários experimentos feitos.

Então expliquei para ele de que se eu estiver errado, que ele me convença acerca do evolucionismo. O que ele respondeu dizendo que não está com a intenção de convencer ninguém.

Rebati dizendo que, mesmo que consiga realizar com sucesso o processo evolutivo em laboratório, não significa que ocorreu de fato na Terra. Ainda que possa fazer com que um protozoário evolua para um organismo com membros. Ele logo insistiu dos experimentos, mas agora usando nomenclaturas técnicas que não compreendo. E depois completou dizendo que a minha postura é de ignorância, e que eu teria de ler mais.

A conversa de uma certa forma se finalizou, mas aparentemente amigável, e com uma frase dele: “Você não deve expor essa sua postura criacionista, quando for entrar em contato com outros pesquisadores”. O que indiretamente estava dizendo que eu seria certamente descartado. Saí de lá dizendo que a Ciência sofre de mudanças de paradigmas também. Portanto, de crises. O que ele respondeu que isso é saudável.

Mais tarde pensei: Ainda vou ter de ler mais? Além do que já li? Tudo bem, na verdade senti motivado a continuar nas minhas pesquisas e observações. E até de ler os seus próprios artigos. Afinal, não é por causa da sua postura é que devo desmerecer os seus trabalhos. Pelo contrário, são produções científicas, portanto, creio eu válidas. Inclusive pensei em participar das palestras.

Mas fiquei um pouco atordoado, porque senti um clima pesado, uma certa rivalidade e intolerância. Foi quando lembrei-me da postura da pesquisadora Francisca. Também lembrei-me da postura radical de Richard Dawkins, que fez com que um pesquisador de renome deixasse o seu cargo. Ou seja, há uma guerra, ainda que velada, no sentido de não dar espaço para um criacionista dentro do ambiente de pesquisas biológicas. Pois, isso pareceu para eles um tabu.

Percorri então outros corredores e salas, no intuito de entrar em contato com os pesquisadores, como das outras vezes. E subi no andar de cima. Lá percebi que um trecho do prédio tem-se a impressão de estar em um edifício novo, por causa da parência moderna. Os prédios, na maioria, são aparentemente das décadas de 50 para 60. Mas esses trechos tinham a aparência que lembra um pouco um hospital, só que com os equipamentos nos corredores, além de muitas geladeiras ou congeladores.

Ainda que eu gostava do ambiente, de experimentações científicas, ainda sentia o impacto agressivo do prof. Fernando, da sua intolerância, ainda que pouco camuflada. E pensei em como me posicionar-me nessa situações, sendo eu um artista plástico, mesmo que pesquisador acadêmico. Muitas vezes eu sentia, não digo exatamente inveja, da ausência de uma postura de compromisso em pesquisas. Na verdade, carece-me de um currículo dentro dessa área (seja ela qual for), e que confesso eu, me faria de uma certa forma realizado.

Pois, ainda nesse dia, ouvi de uma pesquisadora de que a realização através do mestrado e doutorado, isto é, dentro da linha acadêmica, é uma vaidade que muitos querem concretizar. Ou seja, no meu entender, o que impulsiona toda aquela produção científica tem na verdade como motivação a vaidade pessoal (o que lembra a advertência dada por Salomão na Bíblia).

Mais tarde conclui que se todos vivessem exclusivamente do pensamento cartesiano, ninguém se casaria, nem escolheria a roupa do seu gosto, ou a música, os entretenimentos. Sequer teriam o prazer de degustar um caviar.

Esse pessoal assumiram o compromisso de pesquisador, cientista. E vão dedicar-se o resto da vida deles nisso. Ainda que a meu ver, no ponto de vista bíblico, estão no engano. Em um desses contatos que fiz, quando mencionei o Steve Jay Gold, um pesquisador disse que ele já faleceu. Penso a reação de um ateu no inferno, quando descobre que aquilo que cria estava errado.

Evidentemente que muitos poderiam dizer que a minha conclusão é presunçosa: O que garante que a minha postura é a certa? É uma questão de fé, meu caro amigo. Somente isso.

Em uma sala, tem-se impresso na porta o símbolo de radioatividade. Mesmo temeroso, bati na porta e entrei. Lá estava uma jovem estudante (ou pesquisadora) a manipular os materiais. Eu perguntei se não era perigoso, o que ela respondeu que não, porque era feito por detrás de um anteparo, que é aparentemente de acrílico. Ela não estava vestida com nenhuma brindagem. Suponho eu que sejam isótopos a serem manipulados. Então perguntei a ela aonde posso conseguir os marcadores radioativos. Pois, bem antes, eu já estava com a idéia de desenvolver um detector de radiação, e seria necessário ter um tipo de marcador. Ela disse que é preciso contatar com empresas que tenham autorização para mexer com isso. Ou melhor, é preciso ter a autorização para adquirir esse tipo de material.


Um estranho no ninho, e a sensação de exclusão

Eu tinha chegado no terceiro andar desse prédio. Então lembrei-me que no primeiro, que é de Botânica, Zoologia e genética evolutiva, eu ainda não fui no último andar. Mas antes de passar por lá, resolvi ir para a biblioteca, afim de deixar os cartazes, e se possível contatar com algum professor dando aula. Pois, o prédio é de salas de aulas.

Logo na entrada o porteiro olhou um pouco desconfiado, e me advertiu de que não se deve interromper as aulas dadas pelos professores. Para isso, deve ir para as salas próprias deles, e que ficam nos prédios que visitei. Isto porque eu disse que a minha intenção é de fazer os contatos para ilustrações científicas. Então, respondi que vou para a biblioteca, e deixar os cartazes lá.

Ainda que discretamente, consegui contatar com um professor, e que estava dando aulas de análise microscópias, e acerca de crustáceos, acredito. Pois, tinham algumas amostras biológicas espalhadas por aí. E a entrada da sala estava disponível. Como ele não estava ocupado com nenhum aluno, o abordei perguntando acerca da proposta de ilustrações. O que ele mostrou interessado. E acabou escolhendo um dos cartões dados por mim. E depois, fui para a biblioteca e deixei três cartazes lá.

Fui então para o prédio de taxonomia botânica (aquela que parecia cercado por um lago). E encontrei o mesmo pessoal que contatei na semana passada, em uma sala. Só que tinha mais alunos lá. Então um deles (que tinha contatado antes), mostrou um trabalho encomendado, e feito por um dos ilustradores que trabalham na instituição: O Kleison (www.kleiartes.blogspot.com).

Logo vi que o trabalho era bom. Melhor que os meus. Era uma prancha, bem feita, e cujo pontilhado era menor do que o meu. Imediatamente declarei para o aluno que encomendou o trabalho, de que o ilustrador não usou uma dessas canetas a nanquim, a qual eu uso. E sim, o bico de pena mesmo, do tipo mosquito. E deixei claro de que o trabalho é bem melhor do que o que até agora fiz. Ele tinha perguntado para mim quanto achou que saiu. O que respondi, calculo eu, uns R$ 300,00. O que ele respondeu que é isso mesmo. O certo é de eu não dizer o preço do dito trabalho. Pois, até agora não sei quanto valeu.

Fui para a sala de um professor, o Panini, acho eu, e que foi indicado por um dos alunos. Na mesa dele estava duas ou três cartelas de slides. Comentei então, sobre o problema dos slides em pegar os fungos, além de desbotarem-se. O que ele confirmou que está escaneando tudo, por causa disso. Pois, são materiais pouco duráveis. Falei da minha proposta de ilustração, o que ele mencionou dos trabalhos de Rogério Lupo e de Kleison, como os dois melhores, e que ganharam até prêmios no Exterior. O que confirmei que de fato são bons. Mas que estou apenas começando. Ele ficou com um cartão meu.

Ainda no mesmo prédio, pude contatar com uma bióloga e um biólogo. Todos da área de taxonomia botânica. Até aí tive boa aceitação. Ao sair do prédio, pude ver uma cena para mim inusitada: Uma tartaruga marinha a caminhar no fundo do lago. E depois, subir para a superfície e respirar. Pude comentar com o porteiro de entrada (ou segurança), de que gostaria de ter uma chácara, aonde pudesse criar animaizinhos como este, e em uma lagoa.

Saí de lá, e em direção ao prédio de Botânica, Zoologia e Genética evolutiva. Me identifiquei na portaria. E até a segurança permitiu que eu entrasse. Mas logo perguntou para onde eu iria. O que me surpreendeu um pouco. Porque das outras vezes não tinha nenhum problema. É que, segundo ela, alguém reclamou pela intrumissão de terceiros no local. Entendi que seja eu. Quando expliquei que, como das outras vezes, eu estava fazendo contato com os pesquisadores, ela disse então que poderia acessá-los através de E-mails. Isto através do site do Instituto de Biologia.

Saí de lá. Na verdade fui convidado a fazer isso. E pensei na possibilidade ser aquela evolucionista, a pesquisadora Francisca. Pode ser, pode não ser. Mas tudo bem. Caminhei até o prédio da Biomédicas. Lá o segurança disse que só poderia contatar com os pesquisadores, através dos E-mails no site... www.icb.usp.br, no Departamento de Parasitologia. Mas como disse que pretendo deixar uns cartazes, ele permitiu que eu fosse à secretaria, e indicou aonde ficava.

Foram os últimos três cartazes dos 15 que eu tinha impresso. O que significa que distribui um conjunto de 5 grupos de três cartazes por aí. Só naquele dia. Saí do local, e fui em direção ao ponto de ônibus, pois, o meu dia de contato findou.

No caminho, fiz as minhas reflexões. É compreensível a desconfiança sobre a minha pessoa. Pois, não sou estudante de biologia, muito menos um biólogo. Vi coisas que muitos sequer tiveram a oportunidade de apreciar: Os laboratórios, as atividades dos pesquisadores, e muito mais.

No tocante à minha postura, é igualmente compreensível as reações: Além da ameaça criacionista, o pessoal vive de verbas do governo, e para pesquisas. E aonde o paradigma vigente é justamente evolucionista. Existe todo um peso da liderança acadêmica, e sansionada pelo status quo da comunidade científica, aonde a credibilidade tem um peso fundamental.

Uma postura de contestação constitui-se de uma séria ameaça para eles. Mesmo que seja para a quebra de paradigmas, e dentro do espírito universitário.


O retorno ao Instituto Butantan

Antes, passei de novo no Instituto Oceanográfico. Isto porque eu tinha recebido um E-mail de uma desenhista de nome Silvia. Ela propos que eu trabalhasse lá, porque tinha ainda uma vaga para desenhista. O que logo pensei de que estava dando resultado os meus contatos. Mas quando cheguei lá, não encontrei a tal de desenhista, ainda que ela é conhecida pelo pessoal.

Saí de lá e fui em direção ao Instituto Butantan, mas pelo caminho da Geociências, e subindo na Rua do Lago. Em um trecho porém, vi que demandaria tempo e esforço, se for alcançar a Lineu Prestes pela Rua do Lago. Então, acessei o pátio do Instituto de Química, e que dá justamente para o corredor do bandejão. E de lá, fui em direção à Avenida Lineu Prestes, para entrar no portão do Instituto Butantan.

Lá dentro, cogitei em ir em um dos prédios. Mas decidi fazer o contato com o Kiko. Era um dia chuvoso, e a rua que leva àquela casa aonde ele está, de maneira improvisada, é em parte lamacenta. Imagine um trecho de rua não asfaltada, e dentro da USP.

Fui recebido por ele, depois de uma derrapada (eu tinha confundido um sujeito com ele, logo na entrada da casa). E de imediato, ele pediu para que uma suposta aluna dele cedesse a cadeira para que eu sentasse. Logo senti-me constrangido, porque eu estava atrapalhando os trabalhos de alguém. Procurei ser o mais breve possível, o que não deu. Certamente que houve momentos de relaxamentos e expontaneidade. Ele mostrou para mim a edição fax simile de um dos livros que ele perdeu num incêndio do serpentário.

De uma certa forma, Kiko mostrou-se espontâneo e solícito em me atender. Viu os meus trabalhos, no meio de telefonemas que ele tinha de fazer no seu celular. Naquele momento supus que ele já tinha olhado os mesmos trabalhos, mas expostos no meu site.


Cobras e lagartos em casa

Foi quando ele deixou claro de que teria de fazer as ilustrações a partir de observações diretas, e não de fotografias. O que concordei plenamente com ele. Pois, o disse de que ao basear-se em uma foto, estaria copiando os traços impressos. Ao passo que através da observação direta, eu estaria interpretando corretamente a realidade observada.

Ele sugeriu que eu levasse um vidro de cobra em solução para casa, para reproduzi-lo adequadamente. Mas não aquele dia. Surpreso, perguntei se poderia ser lá mesmo, o que ele respondeu que não tem espaço. Poderia ser no prédio novo, a ser inaugurado, e que vi, pensei. Mas vai levar pelo menos uns três meses para ficar pronto. Então eu disse que não teria pressa. E parece que sugeri que poderia levar sim, a cobra para a casa. Ou esperar pela reforma finalizada do prédio. “Vou pensar”. Então nos despedimos.

Estava ainda chuvoso quando afastei da casa aonde ele estava. E tive de pisar na terra lamacenta. Pois, um trecho do caminho ainda não estava asfaltado. Abri o guarda-chuva, mas acho que puxei um pouco forte a haste, de modo que ela se soltou. Mais essa! Aonde encontro um guarda-chuva decente? Assim pensei. Mas dei um jeito nela e prossegui no caminho.

Foi quando então olhei para trás, e vi que ele estava me observando. Perturbador. Certamente que a minha presença foi um incômodo.Talvez explique porque ele não respondeu o meu E-mail. Além disso, ele tinha perguntado, quando nos encontramos naquele dia, como estava indo o meu site. Certamente notou de que eu tinha investido nela, sem contudo ter sinalizado um retorno financeiro. Afinal, o que eu estaria fazendo lá? Se não é para pegar serviço?

No caminho de volta para casa simulei um argumento para não levar a cobra: “A minha mãe me mataria. Seja uma cobra morta, muito menos uma viva!”. Mas é para pensar.



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