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Os sebos estão se implodindo
São Paulo, 7 de agosto de 2010, sábado.

O que aconteceu com vários sebos da cidade? Muitos fecharam: Bibliomania, Papo Cultural, Leitura & Arte, Carlos Gomes, Scriptorium, Amantes do Livro, Arquipélago etc. Tudo leva a crer que seja por causa de um intermediador de venda de livros na Internet. Bem antes, eu já previa que isso iria acontecer.

Em 2006, quando desisti do meu projeto de intermediador virtual de livros - o Booklist, que depois tornou-se em Mural de Livros - eu tinha previsto uma série de possibilidades para esse mercado sebeiro. Na verdade, fiz algumas conclusões, além de projeções, e que me levaram a desistir do meu projeto:

  • A Internet em si permite que qualquer um possa ter os seus conteúdos postados facilmente localizáveis. Isso graças aos mecanismos de busca como o Google, Yahoo!, AltaVista, Hotbot etc. Basta apenas ter um site ou blog. Acontece que muitos leigos - particularmente os sebeiros, nesse caso - não conheciam esse detalhe. Na época, eles eram ignorantes no assunto (e continuam sendo...).
  • A concorrência entre os blogs fez com que criassem os plugins para incrementar os recursos neles (exemplo do Wordpress). Conclui então, que é uma questão de tempo para que surjam os plugins do tipo lojas virtuais. Ou algum tipo de serviço que ofereça as facilidades nesse sentido. O que permitiria que qualquer um possa criar seus próprios negócios. Mas sujeitos a gigantes como a Google, Yahoo! etc.
  • A criação de um intermediador virtual certamente alterará as relações entre os sebos e estes com seus próprios leitores. Alterações estas de conseqüências até imprevistas. Isto devido à facilidade em comparar os preços dos livros entre si, provocando assim, seus nivelamentos.
  • A competição se tornará acirrada. A ponto de os próprios sebos acabarem engolindo uns aos outros.
  • Para que eu prosseguisse no meu projeto, teria de criar uma estrutura empresarial, com equipes etc. Na verdade, tirei essa conclusão na época, porque estava aprendendo uma nova linguagem de programação, voltada ao servidor, e que permitiria trabalhar com grandes quantidades de informações, ou até com bancos de dados. E senti que sozinho seria quase impossível de manter todo o empreendimento. Acontece que a minha preferência sempre foi de trabalhar sozinho...
  • Eu teria de criar algo do tipo Mercado Livre ou Arremate.com (que na época era uma empresa distinta da primeira). Isso para mim é um pesadelo: Detesto esses tipos de interfaces e modo de comercialização. Mesmo sabendo que é prático.
  • Eu estava fugindo, e muito, dos meus propósitos iniciais, em relação ao projeto do site.

Na verdade, as projeções (e minhas conclusões) não se deram exatamente assim. Pois, com o surgimento de um intermediador virtual o processo acelerou. Houve diferenças:

  • As nítidas vantagens: O leitor perdeu menos tempo em fazer as garimpagens nos sebos. Os preços dos livros tenderam a cair. E ele passou a ter mais poder de decisão, frente aos sebeiros. Mas...
  • Além dos leigos aventureiros, com suas propostas absurdas, e que provocaram (pequenos) transtornos no mercado sebeiro e virtual, as margens de lucro certamente irão reduzindo cada vez mais. Chega a um ponto em que os próprios livreiros terão de fazer seus cortes. O que talvez explique o fechamento dos sebos: O custo de manutenção dos seus pontos tornaram-se proibitivos. Ou seja, a próxima fase passou a ser a virtualização dos sebos. Fica uma pergunta: Nesse caso, como eles vão adquirir seus livros, sem os pontos fixos de vendas?
  • Para piorar no lado dos sebos, qualquer um pode vender seus próprios livros. Não precisa mais vendê-los para eles.
  • A briga agora se dá no virtual. Não sei como que vai ser assim. Mas com certeza é uma forma meio besta de sair do mercado físico, para morrer no mercado virtual. Porque se os preços continuarem abaixando - mesmo no mundo virtual - haverá um limite em que não poderão suportar.

A maioria absoluta dos sebos acabaram virtualizando-se. E boa parte dos que resistiam, fizeram o mesmo, mas com outros nomes. Mas os sebeiros sabem quem é quem entre eles. Então, suponho que seja para não comprometer a loja física com a loja virtual. Uma forma de multiplicar os recursos de venda (e colocar os preços diferenciados entre as duas opções), para sobreviver nessa concorrência.

Conversando com um funcionário de um sebo tradicional, descobri que este prefere vender seus livros através do intermediador virtual, do que no próprio site. Isto é, pelo o que entendi, o site desse sebo na verdade redireciona seus visitantes para o intermediador virtual. Esse funcionário argumentou dizendo que o intermediador é um espécie de Google, e que dá a segurança na venda de livros. Pois, de 7 a cada 10 livreiros, já sofreram calotes. Será? Quando eu vendia os livros nunca tive esse tipo de problema. Tudo bem. Pode ser que eu seja um dos 3 de cada 10. O argumento, na verdade, foi muito fraco.


Novas projeções:

Achei interessante em continuar nesse exercício, mas agora com uma novidade: Eu gostaria de saber o que você, jovem internauta (não importa a idade) acha dessas projeções abaixo:

  1. Qualquer um poderá vender, comprar ou trocar seus livros através da Internet. Sem complicações nem intermediários.
  2. Você poderá desfazer-se de quaisquer livros por um bom preço. E não pela nicharia paga pelos sebeiros. Isto é, pelo menos dentro do prazo de uma semana. Entenda-se: Quaisquer livros, mesmo que sejam porcarias...
  3. Não precisará dos sebos para conseguir seus livros.
  4. Você faz um pedido de livro, e sabe que mesmo daqui a 20 anos ou mais, poderá receber um retorno.
Comente!



Comentários feitos
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14/08/2010 - 12:50 - (anônimo) - Olá zadoque, concordo em termos com o que vc diz.
Quanto ao preço que os sebos pagam ao consumidor, é acertado entre o consumidor e o lojista.
Se pouco ou muito foi acertado. Não se esquecendo que o sebo paga a vista e no ato, tendo que revender sabe la quando.
Abraços.

16/08/2010 - Zadoque - Acredito que eles cobram geralmente 1/5 do valor do preço da venda. Isso porque, segundo um deles, apenas 1/5 dos seus acervos são vendidos. Só que não sabem quais são os livros que de fato vão vender. As minhas projeções são falíveis. Mas vale a pena fazê-las.

17/09/2010 - 20:21 - Goiaba - Os preços são irrisorios e na verdade eu acho que quem vende não sabe o valor do livro por ser de alguem que já morreu ou coisa assim. O lucro com certeza beira os 1000% (mil) no minimo. Já vendi livro no mercado a 15 anos, mas só novos e com nota fiscal de origem.

23/09/2010 - 02:42 - Raquel - compro livros usados através de um intermediador virtual , mas isso por morar em uma cidade muito pequena, que nem livraria tem, que dirá sebo....mas o gostoso mesmo é garimpar ao vivo, sentindo os livros nas mãos ...sem contar as surpresas, pois não são todos que descrevem o livro exatamente como ele está e a gente pode receber uma bela porcaria...e é uma pena, mas parece que realmente o comércio virtual vai acabar nos tirando o prazer de garimpar ao vivo verdadeiras raridades.

25/09/2010 - Zadoque - Goiaba, o universo de sebos é como as ações da Bolsa de Valores: O lucro depende da sensibilidade e habilidade do livreiro. Tem uns que ficam ricos, e os demais têm seus rendimentos dentro da expectativa. A maioria absoluta, porém, não entende nada de livros.

Prezada Raquel, o intermediador virtual é no momento, uma necessidade. Pois, é muito difícil para alguém que trabalha em garimpar os sebos. No tocante aos livreiros que não dão uma descrição detalhada e até fiel dos livros que vendem, tenho uma boa dica (mas pode ser que não dê certo): Comente com outros sebos, e que estejam dentro do teu interesse em negociar, sobre o livro que está procurando. Diga que o encontrou, mas em um sebo do intermediador, só que você não tem mais informações sobre a obra. Dê, inclusive, o preço que você viu. Enfim, diga que você está interessada pelo livro, mas que não tem pressa.

É possível que em pouco tempo você receberá as propostas, não de um livreiro, mas de alguns, sendo que um provavelmene negociou com o livreiro que tem o livro, e está afim de dar toda a descrição que você precisa... Os demais, conseguiram arranjar outros exemplares. Posso estar falando bobagens. Mas não deixa de ser uma idéia, e que pode ser até melhorada.

15/11/2010 - 21:02 - Simone - Concordo que qualquer um pode vender seus livros pela internet hoje em dia, no entanto eu prefiro vender para um sebo por um valor baixo pois o meu objetivo é otimizar o espaço na minha estante, passando em diante o que não pretendo ler novamente, e não ganhar dinheiro com isso. Um problema que me desestimula a comprar num site intermediador é que o preço de alguns livros usados não é tão inferior ao preço de um novo (pois há muitas promoções nas lojas virtuais), e não sabemos qual o estado do exemplar vendido pelo sebo... isso só vendo ao vivo!

23/03/2011 - 08:23 - (anônimo) - Posso dizer por experiência própria que vender online é tão trabalhoso quando vender na loja fisica. A diferença é que online vc. não precisa pagar aluguel e outras despesas que a loja fisica tem. Por isso acho que poucas pessoas venderão na internet a não ser que tenham tempo livre, mas quem tem outro trabalho dificilmente se dedicara a essas vendas, talvez esporadicamente.

01/08/2011 - 16:07 - Lit - Então, como fica?!?!

Eu tenho uns 200 livros q gostaria de vender, e depois de ler fiquei sem saber o q fazer...

Dá uma luz aí!

todos.pra.voce@hotmail.com

[]s

03/08/2011 - Zadoque - Lit, em breve vou apresentar a solução. Mas não prometo nada. Em todo o caso, o teu E-mail está disponível aqui, para quem quizer comprar os seus livros.

08/08/2011 - 22:03 - Alan - Eu sou livreiro, e decidi por esta profissão por gostar dos livros, pelo menos entre os clássicos já li mais de 100.

Zadoque, não se coloque acima do bem e do mal, existem diversos gastos dentro de um sebo e acredito que a internet nos auxilia, não só um sebo depende de vendas, as trocas são positivas e também as doações, um vizinho seu pode gostar de ler e mesmo você com uma portinha aberta ali na sua casa ele nem se dar conta que você está ali, mas já na internet, a pessoa vai pesquisar no google maps algum local e já vê lá o você como referência, por tanto ela atrapalha em algumas coisas, ajuda em outras.

A disponibilidade de pessoas querendo vender livros é definida pelo local.


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