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São Paulo, 15 de outubro de 2009, quinta.
Alterado em 22 de fevereiro de 2014, sábado.
Saramago: Um néscio ou insensato?
Fico estupefato em ouvir um depoimento desse escritor português, e que saiu no Yahoo Notícias de ontem, quando chamou o papa Bento XVI de cínico, por ter invocado a Deus: Que Ratzinger tenha a coragem de invocar Deus para reforçar seu neomedievalismo universal, um Deus que ele jamais viu, com o qual nunca se sentou para tomar um café, mostra apenas o absoluto cinismo intelectual.
Ora, Saramago, segundo o que eu tinha lido em algum lugar, disse uma vez que graça a Deus eu sou um ateu católico. Se essa frase é dele mesmo não sei, mas aí estaria mostrando o seu cinismo. Não sou católico e não considero a igreja católica como cristã (muito menos o papa como o representante de Cristo e/ou do cristianismo na terra). Para explicar melhor, eu teria de escrever um artigo à parte, o que farei mais tarde.
Porém, chamar alguém de cínico intelectual, só porque invocou um ser que ele nunca viu, ou que tenha tomado um café com Ele, supõe-se ser néscio, ou demonstra uma falta de senso: Não é porque nunca O viu, significa que não existe. Ou que aparentemente não reage diante das nossas loucuras (guerras, crimes, atrocidades etc.), significa que Deus não existe. Mas como Saramago é um escritor instruído, néscio ele não pode ser, então deve ser insensato.
O grande êrro dos ateus é que eles ficam atrelados à Ciência. E esquecem que a Ciência trata-se do mundo físico, empírico, experimental. Não significa com isso que a realidade seja exatamente o que nós percebemos. A questão da crença em Deus não lhe é pertinente: A Ciência não pode dizer que Deus existe, ou que Ele não existe. Ainda que os ateus afirmam que nós, os crentes, não podemos provar que Deus existe (o que é altamente questionável, porque depende do que significa provar para eles), também não podem provar que Deus não existe. Logo, a postura de um ateu também é uma crença, e que não pode sequer basear-se na Ciência.
Portanto, chamar alguém de cínico, porque diz acreditar em Deus, é um ponto de vista dele. E também um juízo de valores; não só contra esse alguém, mas até contra Deus: Ao dizer que o criador não sentou para tomar o café, estaria na verdade antropomorfizando a Deus. Isto é, criando uma imagem Dele, segundo os nossos pontos de vistas, valores e ideologias. E para reforçar isso, o Deus do papa Deus de Saramago é de um neomedievalismo universal. Ou seja, o Deus judaico/cristão é medieval, para colocá-lo dentro do universo de ignorância e de repressão. Estarei errado?
Richard Dawkins e o seu ataque contra Deus
Mas suspeito que Saramago não seja insensato. Isso porque ele me lembra, e muito, de uma grande figura: O senhor Richard Dawkins, autor de O gene egoísta, O delírio de Deus etc. É esse um outro que dá a sua grande derrapada, fugindo (e muito) da sua especialização: A biologia. Mesmo sendo um evolucionista radical, jamais poderia misturar as coisas: Entrar em uma área que não lhe é pertinente, e fazer as afirmações que são até heresias dentro da Ciência. Pois, repito: A Ciência jamais poderá afirmar que Deus existe ou não existe, ainda que haja uma controvérsia entre o criacionismo e o evolucionismo, o máximo que o senhor Dawkins poderia fazer é dizer: Sou ateu nas minhas convicções.
Então por que esse ataque contra os teístas? É evidente que o sr. Dawkins está usando a Ciência como autoridade para desacreditar a postura de crença em Deus, sem contudo basear os seus argumentos em alguma afirmação de fato científica. Isto é, usar a própria Ciência para defender uma ideologia. Da mesma forma como Saramago usa da sua fama como escritor (ganhador de um prêmio Nobel) para propagar o seu ateísmo e atacar o que a maioria das pessoas consideram como o líder máximo do cristianismo, uma representação do mundo teísta. Isso para mim conota o satanismo. Vale a pena dizer que o satanismo não significa necessariamente a adoração ao capeta, com todo o seu imaginário possível.
Ser satanista, na minha definição, é uma postura, uma forma de pensamento. Como alguém me tinha dito: Um pensamento luciferiano (de Lúcifer, Satanás), e que está impregnado no mundo todo. Mais tarde conclui que a sua inspiração é o Mito do Prometeu, o deus que rouba o fogo do Olimpo, e leva-o para os homens (criando assim a suposta civilização). Ou seja: Há um desejo de total independência de Deus. O criador deve ser abolido da mente humana. É essa a intenção de um satanista. De outra forma não teria sentido para um ateu em atacar os teístas, pois, a crença em Deus, para eles, seria um tipo de superstição ou algo parecido.
Comentários feitos:
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16/02/2010 - 23:57 - Ricardo Santiago (ricardosaessantiago@hotmail.com) - Questionar a existência de Deus é natural pois afinal como diz o texto ninguém prova que Deus existe ou não, eu não acredito neste Deus soberano, acho que somos meros e insignificantes seres deste universo nada mais, afinal Deus nas leituras de todas as religioes é muito perverso. pode divulgar meu e-mail.
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20/02/2010 - 19:39 - Zadoque - Ricardo, o problema de Saramago e de Dawkins é que ambos, a meu ver, não usaram os argumentos realmente coerentes para defenderem os seus pontos de vistas. E no tocante à prova se Deus existe ou não, isso depende. Por exemplo, tem o que eu chamo de provas argumentativas. E dizer que na leituras de todas as religiões Deus é muito perverso, isso é complicado. Em que sentido ele é perverso?
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